quinta-feira, 22 de julho de 2010

Uso de tecnologia no diagnóstico médico é aliado ou vilão?

     A medicina em seu contexto vem mostrando um desenvolvimento nos seus recursos tanto teóricos como práticos. Nessa evolução há novas idéias, criações que são produzidas e até mesmo testadas, tudo dentro de uma ética. Isso ocorre adequadamente dessa forma para chegar num resultado, o qual fornecerá uma direção as condutas médicas indiferentemente da área em que se esteja aplicando na medicina.
     Hoje em dia a medicina possui muitos pontos em que já estão bem determinados em relação a diagnóstico, tratamentos e até prevenções, mas existe também pontos nesse aspecto em que não estão exatamente definidos e que se deve ao fato da falta de pesquisa e conhecimento sobre tal quesitos que quando estudados poderão ser revelados.
O diagnóstico, de certa forma, é um exercício de comparação: o médico precisa confrontar os dados que reuniu (através da anamnese, do exame físico e dos exames complementares) com as informações disponíveis a respeito das diversas doenças existentes. É como ter de verificar, em meio a uma multidão, em quem serve uma determinada camisa.
Artigo: http://iatreion.warj.med.br/diagnostico.asp
Os benefícios resultantes da tecnologia médica são patentes. Os modernos recursos tecnológicos de diagnóstico vieram proporcionar ao médico todos os meios necessários para um diagnóstico preciso, tanto do ponto de vista topográfico como etiológico e, o que é mais importante, mais precoce, com evidente benefício para os pacientes, como ocorre no caso das neoplasias. Trouxeram maior segurança ao médico e o apoio necessário para tomada de decisões importantes no tocante à conduta e ao tratamento, seja nos casos de urgência, seja nas doenças crônicas. Aboliram praticamente as laparotomias exploradoras e as chamadas terapêuticas de prova. Ampliaram e diversificaram os métodos terapêuticos e os procedimentos cirúrgicos. Possibilitaram ainda a documentação dos casos em todos os seus aspectos, permitindo maior intercâmbio de experiências e difusão de conhecimentos. Poderíamos dizer que a tecnologia médica mudou a face da medicina.
Artigo: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/tecnologia.htm
Sem dúvida, a área mais complexa e difícil da tomada de decisão médica é o diagnóstico. As principais razões para isto são as seguintes:
1 - O diagnóstico médico depende da análise de dados e informações de diversas fontes de naturezas muito diferentes, incluindo a experiência prévia do médico em realizar diagnósticos do mesmo tipo, bem como o senso comum e a intuição. É bastante difícil formalizar esse conhecimento e representá-lo através de um programa de computador;
2 - Os mecanismos mentais e o processo de raciocínio pelo qual os clínicos chegam ao diagnóstico é ainda mal conhecido. Ele envolve, simultaneamente, processos lógicos, avaliação probabilística, encadeamento causal, e muitos outros processos ainda entendidos parcialmente. É difícil, portanto, tentar simular num computador um modelo incompleto de raciocínio;
3 - Existe uma falta de padronização quanto aos termos e definições médicas. Muitas vezes não existem opiniões consensuais por parte dos especialistas na área de estudo, sobre como decidir em face a evidências conflitantes. São raros os bancos de dados médicos confiáveis, e o conhecimento está espalhado em muitas publicações, lugares e cabeças.
Artigo: http://www.informaticamedica.org.br/informed/decisao.htm


     Por mais que o diagnóstico feito por tecnologias que hoje são utilizadas na prática médica, existe um outro lado que se deve vizualizar que é a relação médico-paciente. Ainda há diagnósticos que são clínicos, ou sejá, através de uma anamnese, exame físico o médico tem capacidade de diagnosticar uma doença.
A negligência com o exame clínico decorre de dois fatores: a pressa com que o paciente é atendido no modelo atual de assistência médica e a crença de que os recursos da tecnologia médica suprirão essa negligência. A medicina se tornou mais técnica e menos humana. O médico, de modo geral, passou a se preocupar mais com imagens e constituintes biológicos do que com o paciente como ser humano, passou a dar menor atenção às queixas do paciente e a examiná-lo mais apressadamente.
Afinal, para que ouvir os pulmões, se a radiografia do tórax dá muito mais informações? Por que dar atenção às características da dor epigástrica se a videoendoscopia pode filmar e fotografar o interior do estômago? Para que examinar o abdome com manobras palpatórias se o ultra-som pode documentar uma provável esplenomegalia? E assim por diante.
Houve uma deterioração da relação médico-paciente. Aos fatores decorrentes dos sistemas de seguro-saúde, como a intermediação dos serviços médicos, a regulamentação burocrática e o atendimento despersonalizado, veio somar-se a negligencia com o exame clínico.
Harrison salientou com muito senso de humor, que a tendência atual é o doente ser examinado pelo médico durante 5 minutos e passar 5 dias submetendo-se a exames e testes os mais diversos, na esperança de que o diagnóstico saia do Laboratório como o coelho sai da cartola de um mágico.
Neste tipo de medicina deixa de haver o ato médico do exame clínico que, segundo o Prof. Mário Rigatto, é o momento ideal de conquista do paciente, de estabelecimento da empatia e da confiança tão necessárias ao exercício da medicina. O paciente reage com desconfiança e hostilidade e passa a exigir mais de seu médico em resultados. Afinal, não tem ele, à sua disposição tantos recursos técnicos? O diálogo entre ambos perdeu aquele sentido a que Balint chamou de "colóquio singular" e tornou-se inquisitivo de lado a lado.
Nesse contexto, os pacientes ditos funcionais são os que mais padecem. São enviados a múltiplos exames e testes, que não esclarecem a sua doença, porém revelam, muitas vezes, achados de somenos importância, tais como pequenos cistos ovarianos, renais ou hepáticos, um colo irritável, ou uma taxa de colesterol ligeiramente elevada, achados estes que passam a constituir substrato imaginário para novas somatizações.
Artigo: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/tecnologia.htm


     Enfim, por mais que há diagnósticos sem uso de tecnologias ainda existe muitas doenças que hoje não são identificadas somente numa conversa com o paciente. Esse suporte acelerado da tecnologia pode ser considerado um suposto aliado a medicina ou um vilão na relação que deve existir entre médico e paciente?